A Myos organizou duas visitas à exposição de Frida Kahlo que, depois de uma passagem por Londres esteve em Lisboa até ao dia 21 de Maio de 2006. Apesar de a mostra ser relativamente pequena tivemos oportunidade de ver algumas das obras mais significativas da pintora entre elas a “coluna partida”.

O que impressiona verdadeiramente nesta exposição é a viagem através da vida, da paixão e da luta pela liberdade que Frida protagonizou num dos momentos mais controversos da história, a primeira metade do Século XX. Amiga de artistas e boémios, mulher fascinante, feminista, mulher de causas e de paixões arrebatadoras que encontrou junto de Diego Rivera, um homem exuberante e excessivo na sua vida e na sua arte, a grande razão da sua vida, a plenitude espiritual de um grande e difícil amor.

Na obra de Frida há uma transmutação criativa da dor em beleza, apesar da visibilidade da dor há sempre beleza.

Há um traço cultural universalista na obra da Frida, através da sua pintura é possível um intercâmbio, uma simbiose de linguagem de linguagens e de culturas entre si muito distintas. Isto é assim, não obstante a obra de Frida ser profundamente contextualizada: quer nas suas temáticas, dor, sofrimento, traição, luta, libertação; quer nos seus símbolos, a natureza, os animais e as plantas do México, os símbolos políticos do comunismo.

Cerca de um terço do trabalho de Frida são auto-retratos. Pintar auto-retratos é um pouco como escrever um diário. Hoje, muitos psicólogos e psiquiatras vêm a escrita de um diário como uma auto-terapia. Em Frida, os auto-retratos são uma terapia, são o meio que ela utiliza para se reconstruir das suas feridas, através deles exorciza os seus fantasmas, as suas dores físicas e emocionais e, sobretudo, questiona a realidade da sua própria existência. Em muitas das suas obras há como que uma passagem do real, da experiência vivida para o sonho, para a vida transformada através da memória e do sentimento. A própria dor é simbolizada, há símbolos para cada emoção, para cada sentimento.

A questão do corpo é central nos auto-retratos porque foi central na vida de Frida. A experiência de viver através do seu corpo é aquilo que, em minha opinião, mais se destaca na sua obra. Julgo que um doente de fibromialgia consegue perceber esta experiência muito bem, é como se não existisse vida para lá da experiência física que tudo condiciona. O centro de todos os pensamentos está no corpo, quer se trate das mais íntimas emoções acerca de si mesma, quer daqueles que resultam da percepção da sua realidade, do contexto social, cultural e político que viveu intensamente.

 

Autora: Cristina Paula Baptista, sócia da Myos

Data de criação do artigo: 17 de Julho de 2006

Este artigo foi escrito pela autora para utilização pela Myos e não pode ser reproduzido em outros sites, blogues e páginas, sem a expressa autorização da autora e da Myos.

Nota: Este artigo foi escrito com o antigo Acordo Ortográfico

 

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