Dor! Cada um de nós já sentiu dores nas suas diversas formas e em diferentes contextos, lidando de forma muito própria com essa dor, relacionado com o seu limiar de dor.

Quando sentimos uma dor física recorremos à terapêutica analgésica, a algumas mezinhas das nossas avós e a outras formas rápidas e eficazes para o controlo da nossa dor, consoante a área afetada, o órgão lesado. Em simultâneo encontramos soluções, procuramos respostas e causas para a dor que nos atingiu, de modo a que não surja novamente e a possamos controlar eficazmente.

Porém, em muitos outros momentos, a dor que nos assola é a dor emocional que a interfere com o nosso bem-estar psicológico e social afetando todos os contextos da nossa vida, desde os pessoais ao profissional. É uma dor para a qual ainda não existe nenhum analgésico potente que a possa reduzir e ao mesmo tempo pode ser originada por múltiplos fatores sendo difícil encontrar a verdadeira causa.

Existe ainda um tipo de dor, cuja terminologia é desconhecida de muitas pessoas, que é a dor biográfica, aquele tipo de dor que resulta do acumular de todas as dores que sofremos ao longo da nossa vida, desde o nosso nascimento e que é a causa de maior sofrimento para o indivíduo, pela sua complexidade. Este tipo de dor está relacionado intimamente com a dor de alma, aquele sofrimento atroz que interfere com o sentido da vida, com todos os sentimentos, emoções e relações.

Nos últimos anos, senti muitas dores emocionais, relacionadas com as minhas experiências, sentimentos e vivências, atravessando diversos períodos de grande sofrimento. Foi nesses momentos de dor intensa que comecei a escrever e então percebi o papel fundamental da escrita no controlo, perceção e reinterpretação da dor biográfica e assim descobri a escrita como um analgésico emocional.

Quando escrevemos sobre os processos dolorosos que nos atingem, estamos a iniciar um processo de cura, tendo como foco a verdadeira causa da nossa dor, o que realmente nos está a afetar naquele determinado momento, sendo que descobrimos neste processo outras causas diferentes para serem entendidas e controladas.

Debruçar sobre a nossa dor, tal como nos defendemos no caso da dor física, é compreender a forma como nos afeta, como irradia essa dor, que áreas da nossa vida estão a ser afetadas e como essa dor é o conjunto de diversas dores que têm que ser controladas, para que a nossa vida seja pautada por mais momentos não dolorosos.

Escrever é de fato um analgésico emocional muito eficaz e saudável pois não tem efeitos secundários nem contraindicações, não precisa respeitar horários, não interfere com outras terapias e terapêuticas utilizadas no controlo da dor. Escrever é aceitar a dor que nos assola, é descobrir a verdadeira causa que está a provocar sofrimento e é permitir encontrar estratégias para o seu controlo, para evitar que nos assole novamente, para reinterpretar o nosso sentido da dor e da vida.

As emoções são uma das causas da dor de alma quando não são compreendidas e partilhadas, pois afetam diariamente a nossa relação connosco próprios e com os outros, sendo assim fonte de sofrimento e de experiências menos positivas. É nessas emoções, na sua compreensão que a escrita tem o seu foco, tem a sua ação terapêutica permitindo que o menos positivo se torne positivo e que o que é doloroso se torne indolor.

Na nossa vida sentiremos sempre dor, iremos experienciar diversos contextos que nos causarão sofrimento, porém se nos tornarmos conscientes e utilizarmos as ferramentas que estão ao nosso dispor, estaremos a diminuir a intensidade da dor, estaremos a viver com o controlo sobre o que nos faz sofrer. A grande diferença está na nossa capacidade ora de enfrentar a dor ora de permitir que sejamos subjugados.

O que te faz sofrer neste momento? O que te está a causar dor? Como vives a tua dor?

Experimenta escrever sobre esse processo, sobre o teu sofrimento, as tuas dores. Quando iniciares esse processo terapêutico e de cura, utilizando a escrita, estarás a desenvolver o teu autoconhecimento, a potenciar o teu controlo e compreensão emocional e estarás a aperfeiçoar as tuas relações e a ser mais feliz!

Autor: Ricardo Fonseca, Enfermeiro

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