A necessidade Pessoal de uma estrutura familiar coesa e estável é fundamental desde o nascimento até à morte. No devir Pessoal, passando por variados estatutos dentro da família, sempre a considerámos como um espaço de aprendizagem e elaboração de interacções constantes através de contactos corporais, linguagem, comunicação e relações interpessoais. Neste espaço são ainda reforçadas as vivências de relações afectivas profundas como a filiação, a fraternidade, o amor, a sexualidade, entre outros, que permitem toda a junção de emoções, afectos positivos e negativos, sentimentos que permitem a identificação ao grupo familiar e não a outro.

Numa visualização sistémica familiar, todos os elementos do grupo são fonte e receptores de experiências, vivências que partilham com aquele, assim como com outros grupos pertencentes. Por outras palavras, todos os elementos têm uma homeostasia pessoal e grupal permitindo desta forma uma vivência de grupo mais harmoniosa. Quando num grupo homeostático há uma entrada vivencial própria (como por exemplo uma doença) deverá existir uma nova reestruturação grupal, e por sua vez pessoal. Ao reportarmos este entendimento lato para famílias com a Fibromialgia (FM) tudo parece fazer sentido.

Aquando da nova vivência grupal (o diagnóstico da FM), como qualquer organismo vivo, há a procura de novo equilíbrio requerendo reestruturação de cada elemento do grupo (cada pessoa da família nuclear). De forma simplista, aquando o diagnóstico de FM num elemento da família (maioritariamente do sexo feminino o que implica o seu estatuto de “mãe” e “esposa”) deverá existir a colaboração de todos os seus membros para que haja concordância e consequente bom vivênciar quotidiano. Este, além da sua extrema necessidade ao paciente é uma mais valia para a restante família sendo que novas formas de estar e ser podem nascer criando laços familiares mais fortes e coesos.

Todavia, na prática, tal não acontece. Por aquelas diversas formas de estar e ser a “auto-organização” natural não acontece promovendo a estagnação do desenvolvimento familiar. A dinâmica frequente sofre uma paragem de tal forma acentuada comprometendo a autonomia e gestão dos seus elementos em grupo e pessoalmente. É este conjunto de relações que organizam o equilíbrio familiar, e é este mesmo que necessita de ser trabalhado sempre que um novo estado é imposto à família.

A comunicação torna-se agora o centro das atenções. Seja qual for a relação estabelecida no grupo, nada passa sem o acto de comunicação. Já afirmava Watzalwick que é impossível não comunicar. E numa leitura mais atenta podemos averiguar que mesmo não havendo comunicação verbal é sempre a não verbal, a mais limpa de preconceitos e mais verdadeira.

Quantas vezes obtemos respostas do outro apenas por um gesto, olhar ou expressão facial? Em momentos de pressão interna (familiar) e externa (patologia) a crise pode ser ultrapassada por transformações dos padrões de relação grupal originando pequenos ajustamentos.

Para auxílio desta reestruturação existem múltiplas terapêuticas sendo a mais usual a terapia familiar. Contudo, é no dia a dia que muita “terapia” é elaborada quando trabalhada a vertente educacional na promoção de saúde. As maiores alterações pessoais acontecem quando há uma demonstração de capacidades de resolução dos problemas (ou coping que têm por base a educação pessoal constante). Porém, nem sempre as resoluções são as mais positivas ao nível do grupo mas foram as mais confortantes à pessoa para lidar com o novo situacional. Salienta-se ainda que estas alterações não acontecem exclusivamente no paciente mas também nos restantes membros da família.

A irritabilidade, a negação, entre outros são apenas expressões usuais em famílias onde a FM se instalou. A pedagogia, deve então ser apropriada à exclusividade dos casos. É preciso reconhecer o problema, existir uma adesão humana e familiar e por fim a negociação de todos os papéis presentes no grupo. 

Acima de tudo temos de considerar que somos apenas uma partícula de um meio acolhedor, participante, amigo, coeso, apoiante e compreensivo que é a família. Sem ela nunca existíamos e nunca vivíamos…     

Autora: Diana Magalhães (Psicopedagoga)

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Nota: Este artigo foi escrito com o antigo Acordo Ortográfico

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Bibliografia

Alarcão, M. (2002). (Des)Equilíbrios Familiares. (2ªed). Coimbra: Editora Quarteto.

Paúl, C. e Fonseca, A. (2001). Psicossociologia da Saúde. Lisboa: Climepsi Editores.

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