A fibromialgia (FM) é alvo de uma série de equívocos e mal entendidos que importam esclarecer e desmistificar. Muitos médicos e parte da população, por desconhecimento ou distracção, afirmam que a doença não existe e assim implicitamente, acusam as (os) doentes Fibromiálgicos de preguiça e/ou desorientação psicológica. Estes doentes são ainda muitas vezes rotulados como abusadores de fármacos e consumidores de atenção.

Vamos procurar desfazer estes e outros mitos que derivam sobretudo da falta generalizada de informação.

De facto, vários estudos evidenciam que os doentes com fibromialgia são tão ou mais activos do que as pessoas saudáveis, quer antes da afecção eclodir, quer nos períodos em que não estão em crise de descompensação. É evidente que quando nos sentimos efectivamente doentes, não podemos trabalhar bem ou não podemos mesmo trabalhar de todo.

É ainda importante referir que os doentes com fibromialgia sentem realmente a dor e que por isso, esta não é produto da sua imaginação ou fingimento. Múltiplos estudos científicos o confirmam.

Muitos destes doentes apresentam depressão, ansiedade, stress ou angústia, mas estes problemas por si só não desenvolvem FM. As causas, embora desconhecidas, são outras.

Ao contrário da procura exagerada de atenção de que são acusados, os doentes Fibromiálgicos, pelo contrário, apresentam genericamente uma tendência para a solidão. De facto eles preferem isolar-se dos seus amigos e até familiares, reduzindo drasticamente a sua vida social com o intuito de minimizar as crises de FM.

A necessidade de tomar medicamentos, nomeadamente analgésicos e sobretudo durante as crises não significa que os Fibromiálgicos abusem desses ou de outros fármacos.

De resto, a maior parte destes doentes não cumpre sequer a prescrição médica dado que, preferem “aguentar” a(s) dor(es) a tomar “drogas”. Acresce que, a habituação farmacológica é menos comum nos doentes que tomam analgésicos quando deles precisam.

Durante muitos anos, e até que ocorram complicações graves, as pessoas que têm hipertensão arterial, diabetes ou bronquite crónica mantêm o “aspecto” / o “ar” que tinham antes de contrair essas doenças crónicas.

O mesmo se passa com a fibromialgia (FM). E essa é uma das “acusações” que habitualmente se fazem a esta(e)s doentes – Como está doente se tem tão boa cara? Costumo dizer-lhes para responderem, que não é da “cara” que se queixam!

Efectivamente muitos doentes, principalmente as doentes, e talvez a maioria, procura durante muito tempo vestir-se e arranjar-se bem, por vezes até melhor do que quando não eram doentes.

Esta realidade reflecte dois factores irrefutáveis. O primeiro é que não estão deprimidas, pelo menos a ponto de descuidar a sua imagem. Mantêm a autoestima suficiente para desejarem “parecer” bem ou pelo menos normal. O segundo é que apesar da doença que os aflige buscam “parecer” bem, talvez para compensar, mesmo que subconscientemente, o “sentir-se” mal.

Significa ainda que, como afirmei anteriormente, estas doentes não buscam, em geral, a atenção de terceiros e muito menos a sua compaixão. Mas ter um bom “aspecto” nem sempre é sinónimo de “estar” bem. Por isso mesmo uma análise menos superficial, principalmente se realizada por quem já conhece previamente as doentes, revela que elas deixaram de rir e raramente sorriem. Estão tristes. Tornaram-se distantes, pouco atentas e irritáveis, comunicam com dificuldade e isolam-se com frequência. São pois as atitudes, pessoal e relacional, ou as suas alterações, e não a aparência das doentes, que devem, neste caso, ser apreciadas.

Autor: Prof. Dr. Jaime Branco, Reumatologista, Presidente do Conselho Técnico-Científico da Myos

Este artigo foi escrito pelo/a autor/a para utilização pela Myos e não pode ser reproduzido em outros sites, blogues e páginas, sem a expressa autorização do/a autor/a e da Myos.

Nota: Este artigo foi escrito com o antigo Acordo Ortográfico

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